Um teste que avalia 700 mil regiões do DNA das doadoras pode confirmar as contribuições das diferentes etnias na sua constituição, dando mais segurança a respeito das características étnicas que podem ser passadas à criança proveniente desses óvulos
De todos os diagnósticos conhecidos, o mais difícil de ser aceito pela mulher é o da ausência de óvulos capazes de serem fertilizados, isto é, que o ovário não possui mais óvulos capazes de gerarem filhos. É um momento de decepção, pois ela acredita que não será mais possível ser mãe. Esse fato pode ocorrer em mulheres jovens, com falência ovariana prematura, também chamada de menopausa precoce; em casos de cirurgias mutiladoras, em que são retirados os dois ovários; em idade avançada, quando os óvulos produzidos não formam embriões de boa qualidade; ou na própria menopausa na idade certa (ao redor dos 50 anos), época em que não existem mais óvulos.
A solução para todos esses casos é a doação de óvulos. Essas mulheres podem ser mães e gerar o(s) filho(s) no próprio ventre, tendo um bebê fruto dos espermatozoides do marido com um óvulo de uma mulher doadora.
O primeiro impacto dessa proposta de tratamento para essas pacientes é sempre de indignação, acompanhada de comentários como: "Então esse filho não será meu", "Essa criança não terá as minhas características, nem o meu DNA", entre outros. Essas afirmações são feitas por quase todas as mulheres em uma fase inicial. Mas, após um período de reflexão e conhecimento, retornam, aceitando essa opção para ter os filhos.
A doação de óvulos é um tratamento sigiloso, que é do conhecimento exclusivo do médico e do casal. As doadoras devem ser anônimas, isto é, não podem ser da própria família nem conhecidas do casal. Normalmente, as mulheres não divulgam a informação que a gravidez é proveniente de óvulos doados. Portanto, uma grande preocupação que se tem é da doadora ter o máximo de semelhança física com a receptora.
No IPGO, a candidata a doadora, além de um exame clínico e laboratorial rigoroso, deve preencher um questionário detalhado sobre sua vida pessoal e médica, incluindo informações sobre antecedentes e características familiares. Detalhes físicos como peso, estatura, tipo e cor dos cabelos, cor dos olhos e da pele são incluídos nesse questionário, acompanhados de uma foto de quando era criança, para que a receptora tenha uma ideia da fisionomia de quem lhe doará os óvulos. Assim, ela se sentirá mais segura, e sem o risco de um reconhecimento futuro.
Entretanto, considerando a grande miscigenação da população brasileira, mulheres muito parecidas podem ter genes de outras etnias que, no filho, podem se manifestar, tendo o bebê características muito diferentes da família da receptora.
Um novo exame pode dar mais segurança na escolha da doadora: o teste de ancestralidade global. Nele, são analisados 700 mil regiões do DNA de todos os cromossomos. O teste estima a ancestralidade global do indivíduo, fornecendo valores percentuais para a localização biogeográfica do material genético do indivíduo testado. Essa ancestralidade identificada na análise sofre influência de até 5 gerações (até o 16º trisavó/vô).
O resultado do teste irá conter as porcentagens de cada ancestralidade genética que o indivíduo possui, por exemplo: 40% europeu, 20% oriente médio, 20% africano, 20% indígena, com as subdivisões dentro de cada continente (por exemplo, o teste pode indicar que destes 40% europeu, 20% são do leste europeu e 20% são das ilhas britânicas).
A lista de todas as etnias que o Teste de Ancestralidade Global analisa segue abaixo:
Com esse exame, o casal receptor tem a confirmação das etnias que a doadora tem em seu DNA, aumentando a chance de uma criança com características físicas semelhantes à família da receptora.